Desenvolvido e fabricado pela montadora norte-americana Ford, o Modelo "T" foi o vigésimo modelo da marca, popularizou e revolucionou a indústria automobilística. Em 1° outubro de 1908, a Ford lançou no mercado dos Estados Unidos o seu Modelo T, um veículo confiável, robusto, seguro, simples de dirigir e, principalmente, barato. Qualquer um era capaz de dirigi-lo ou consertá-lo, sem precisar de motorista ou mecânico. Como curiosidade relevante, o assoalho do veículo era confeccionado com a madeira e o aço da caixa na qual era transportado. A fabricação ganharia notável incremento a partir de 1913, quando Henry Ford, inspirado nos processos industriais dos revólveres Colt e das máquinas de costura Singer, implantou a linha de montagem e a produção em série, revolucionando o setor. O T era o primeiro carro projetado para a manufatura. Pode-se afirmar com segurança que a indústria automobilística começou a partir deste momento, pois até então, fabricado artesanalmente, o automóvel ainda era visto com desconfiança pelos americanos. Não passava de um brinquedo barulhento, perigoso e caro. Antes destas inovações, um operário era responsável pela produção de todas as etapas. Após as mudanças, grupos de operários eram responsáveis por etapas distintas. Henry Ford criou um engenhoso sistema de esteira, que movimentava o carro em produção em frente aos operários, para que cada um executasse a sua tarefa. Isto aumentou em muito a produtividade, com uma unidade ficava pronta a cada minuto. Como consequência o custo unitário caiu em relação aos concorrentes. E a queda de preço foi constante: em 1908, ano de seu lançamento, cada modelo custava 850 dólares. Em 1927, último ano de sua fabricação, o preço havia despencado para 290 dólares. Por estas razões, o T conquistou o público americano e de outros países. Em 1914 foi iniciada sua fabricação na Argentina. Em 1917 foi lançado o caminhão Modelo TT. Em 1919 a Ford se torna o primeiro fabricante de automóveis no Brasil, com a produção do carro e do caminhão dessa linha. Em 1920, mais da metade dos veículos que circulavam ao redor do mundo eram modelos T e podiam ser vistos até em países distantes, como Turquia e Etiópia. Durante a Primeira Guerra Mundial, o Modelo T foi empregado amplamente, inclusive como ambulância, e correspondeu nas condições mais adversas. A produção do Modelo T foi mantida até 1927. Alguns meses depois de realizar uma cerimônia para apresentação do carro nº 15 milhões, Henry Ford concluiu que era hora dele ceder o lugar a uma nova geração de produtos. O recorde de quase vinte anos de produção e mais de quinze milhões de unidades produzidas só foi superado em 1972, pelo Fusca. Como parte das comemorações de seu centenário, em 2003, a Ford restaurou seis unidades. Uma versão de 2003, denominada Modelo T-100, foi fabricada totalmente à mão, sendo idêntica à original de 1914. O Ford T era de madeira, coberto com chapas de aço, com altura suficiente para transpor com facilidade as precárias estradas da época. Até 1914 o T foi fabricado em uma série de cores de acordo com a preferência dos consumidores. Em 1915, para cortar custos, o T passou a ser produzido exclusivamente na cor preta, situação que perdurou até 1926. Desta época, ficou célebre uma expressão de Henry Ford citada em sua autobiografia, My life and Work, "o carro é disponível em qualquer cor, contanto que seja preto",[4] uma das medidas adotadas para diminuir os custos de produção e, portanto, de venda do produto, pois segundo ele também em sua autobiografia "o preço será tão baixo que nenhum homem fazendo um bom salário será incapaz de possuir um e desfrutar com sua família horas de prazer com a bênção de Deus em espaços abertos". Os bancos estofados forrados de veludo não tinham regulação alguma. Há versões com forrações mais simples (tecido, couro) que se adequavam às varias carroçarias que a linha T possuía (picapes, camionetes, cupês e sedãs). Primeiro carro da Ford com volante no lado esquerdo. Era considerado leve em relação a outros modelos. Como no câmbio, a redução se fazia por meio de uma engrenagem helicoidal. No painel havia amperímetro e hodômetro. Em vez de uma caixa tradicional com engrenagens cilíndricas, que eram ruidosas e se desgastavam facilmente, o T adotava engrenagens epicicloidais (como as das transmissões automáticas), em que as suas duas marchas para a frente e uma à ré eram selecionadas por meio de pedais. Porém, para funcionar, o freio de mão deveria estar na posição correta. Ainda não era com o sistema de pedal, mas com uma alavanca junto ao volante, que formava par com outra, para ajustar o avanço de ignição. As duas alavancas, opostas, formavam a figura de um bigode, o que levou o "T" a ser chamado, no Brasil, de "Ford Bigode". Quando o nome pegou, os modelos fabricados no Brasil passaram a mostrar no ornamento do capô a figura de um bigode. Considerado muito resistente, com 2 900 cm³ de cilindrada e 17 cv de potência, dava uma velocidade máxima de 75 km/h. Freios a tambor acionados por varão, apenas nas rodas traseiras, pois à época acreditavam os engenheiros mecânicos que freios nas rodas dianteiras fariam o carro capotar. Ficava sob o assento do passageiro da frente. Era preciso retirar o assento para abastecer. Posteriormente passou a ser instalado entre o painel e o cofre do motor, abastecido por fora do veículo. Exceto em alguns períodos e para alguns modelos, faróis e buzinas eram oferecidos como opcionais, mediante pagamento adicional. O farol auxiliar do motorista, elétrico, com controle interno, muito útil numa época de má iluminação pública, sempre foi oferecido como opcional.
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